“Pé frio” nunca mais!
No futebol, tem muita gente supersticiosa. Não é o meu caso, mas durante três anos convivi, na Desportiva Ferroviária, com uma fama que não gostava nem um pouco: a de “pé frio”.
Fui assessor de imprensa do clube durante quatro anos, contando as duas passagens que tive pela instituição. Entrei no time em meados de 2013, após um período marcante da história recente da Locomotiva Grená, que havia conquistado o título do Capixabão daquele ano, isso depois de um 2012 com taças da Série B do Campeonato Capixaba, diante do Estrela, e da Copa Espírito Santo, contra o arquirrival Rio Branco.
Eis, então, que veio a Copa Espírito Santo 2013, a minha primeira competição pelo clube. Tiva ampla favorita. Campanha decepcionante.
Avançou em segundo no Grupo B e perdeu os dois jogos para o Cachoeiro nas semifinais. Ali começava, mesmo que em tom de brincadeira, a detestável fama, que ganhou força no ano seguinte.
2014 começou repleto de expectativa e não era para menos. Para o Capixabão, a diretoria grená trouxe os destaques do Aracruz, vice-campeão de 2013, e manteve seus melhores jogadores. Chegaram nomes como Tabata, Badinho, Regilson e Ayrton, do Aracruz, e outros reforços, como o atacante Vitinho, o Victor Rangel, atualmente no Santa Cruz. O clube ainda repatriou o atacante Hércules, autor do título da Segundinha Capixaba de 2012.
O que aconteceu? Pouco futebol, crises e eliminação ainda na primeira fase. Os supersticiosos do elenco, da diretoria, da comissão técnica e até da imprensa, então, procuraram “culpados” e minha fama de “pé frio” foi instalada de vez. “Desde que Henrique chegou, a Desportiva não ganha mais nada”, diziam as más línguas.
Para piorar a minha situação, as campanhas desastrosas continuaram e teve ainda o vice-campeonato diante do Rio Branco, em 2015. Até que veio 2016.
O torcedor grená lembra bem daquele ano. A diretoria se organizou melhor, com novos integrantes, e acertou na escolha do técnico Erich Bomfim e dos reforços, como o craque Edinho. O clube também havia convocado a participação da torcida com o lançamento do primeiro programa de sócio-torcedor, em meados do ano anterior, pelo competente Thiago Trindade, hoje no Fluminense.
2016 já começou com vitória em cima do Botafogo por 2 a 1, em amistoso no Kleber Andrade, com dois gols de cabeça do zagueiro Willyan Rocha, e continuou com uma sequência de 11 jogos de invencibilidade no Capixabão.
Apesar de duas derrotas consecutivas, que culminaram com a demissão de Bomfim, a Locomotiva Grená continuou nos trilhos com o ótimo trabalho de Rossato e conquistou seu 18º título estadual, com duas vitórias por 1 a 0, em cima do bom time do Espírito Santo, e uma festa de arrepiar da torcida grená no Araripe.
O troféu veio para coroar o trabalho de todos naquela campanha e, particularmente, para que eu também parasse de ouvir aquela “zoação”. “Pé frio” nunca mais!
Henrique Montovanelli
Repórter e Assessor de Imprensa da Desportiva entre 2013 e 2018